sexta-feira, 23 de outubro de 2009


A garotinha solitária, de sorriso tímido e "olhar triste", em seu mundo cor de rosa, pensou que sua única companheira andaria de mãos dadas com ela para sempre.
Por muitas vezes ela achou que fossem se perder uma da outra, mas a garotinha, mesmo tímida era forte, tinha uma força que ninguém entendia de onde vinha.
Tinha uma capacidade mágica de curar as feridas. Era triste sim, mas não aparentava, pois todos elogiavam e queriam por perto sua alegria, a alegria que só ela sabia que era falsa. Foi dessa alegria que ela tanto se aproveitou pra manter aquelas pessoas por perto, por medo de ficar sozinha.
Seu maior medo era ficar sozinha, migalhava a companhia de sua companheira, mesmo em momentos não muito confortáveis, pois no fundo ela sabia que seu destino era ser sozinha.
De repente, aquelas mãos se soltaram e algo se perdeu.
Um elo se partiu.
Finalmente a garotinha descobriu que a vida é bem diferente dos contos de fadas, mas para ela ainda é difícil aceitar que a vida muda, o tempo passa e nada pode voltar a ser bom como antes.

...

"Não, eu não era engraçada. Sem nem ao menos saber, eu era muito séria. Não, eu não era doidinha, a realidade era o meu destino, e era o que em mim doía nos outros. E, por Deus, eu não era um tesouro. Mas se eu antes já havia descoberto em mim todo o ávido veneno com que se nasce e com que se rói a vida - só naquele instante de mel e flores descobria de que modo eu curava: quem me amasse, assim eu teria curado quem sofresse de mim. Eu era a escura ignorância com suas fomes e risos, com as pequenas mortes alimentando a minha vida inevitável - que podia eu fazer? eu já sabia que eu era inevitável. Mas se eu não prestava...
(...)
Ali estava eu, a menina esperta demais, e eis que tudo o que em mim não prestava servia a Deus e aos homens. Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro."

"Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê."

[Clarice Lispector]

Nenhum comentário: